Texto de Cátia Bártolo, estudante, membro do AACção
Para a maioria dos jovens é apenas um marco histórico no qual não se revêem e do qual pouco sabem. Mais do que um feriado é a herança de uma geração sedenta de liberdade e progresso que lutou contra o regime fascista, mas que ao que parece, não conseguiu transmitir à sua descendência a verdadeira simbologia da revolução.
Afinal, o que foi a Revolução dos Cravos?
Tratou-se, na prática, de um golpe de estado militar que emergiu do descontentamento dos oficiais dos Quadros Permanentes, oriundos das Academias Militares, relativamente aos oficiais milicianos, recrutados pelo regime político no serviço militar obrigatório, sobre questões de carreira, acrescido do cansaço originado por mais de uma década de guerra colonial, de que o país já dava evidentes sinais de fadiga e para a qual, o governo demorava a encontrar as soluções políticas e diplomáticas, com vista ao seu fim. Nesse contexto um conjunto de oficiais, na sua maioria capitães, começou a organizar-se, a recrutar outros oficiais e a realizar reuniões com o objectivo de derrubar o regime, o que veio a ocorrer a 25 de Abril de 1974. Quando o movimento saiu para a rua, o povo e as forças políticas opositoras ao regime aderiram entusiasticamente e fizeram cair uma ditadura caduca que pouco ou nada resistiu, instaurando-se, assim, a base da democracia actual. O cravo, vermelho, adoptado para símbolo do movimento, resultou da colocação daquela flor nos canos das espingardas dos militares revoltosos, por parte de populares.
A comemoração deste evento para os que nele participaram denota, por um lado orgulho e nostalgia, por outro algum desapontamento, pela aparente falha nos objectivos inicialmente propostos, que não se coadunam com a instabilidade política, económica e social que os dias de hoje apresentam. Contudo, é nas gerações mais novas, de futuro incerto, que esse sentimento se manifesta, em que um novo 25 de Abril mais parece necessário, porém, difícil. As condições da pré-revolução são díspares das que se afiguram neste nosso presente, em que não só a situação política é diferente como a económica e, em parte considerável, a social.
A desilusão com a actual conjuntura político-social fez-nos encostar à sombra das conquistas e revoluções passadas deixando-nos esgotados pelo que não fizemos nem fomos. Numa imagem tão negra elevam-se vozes que exigem ser ouvidas, assim foi na Revolução dos Cravos e assim cremos que seja no futuro, quiçá breve. No fundo ansiamos que seja novamente Abril.
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